Impressões BMW R 1300 GS Adventure 2025: marreta com ASA

Nova ferramenta da marca feita em Manaus não tem nada de delicada, seja na terra ou no asfalto

Foto de: Motor1.com

Por: Thiago Moreno

12 Mai em 07:00

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Alguns trabalhos demandam ferramentas delicadas e precisas, como um escalpo nas mãos de um médico. Outros, precisam de uma grande marreta mesmo. Essa é melhor forma que eu encontrei para resumir meu tempo com a nova BMW R 1300 GS Adventure 2025, ou GSA para os íntimos. Fabricada em Manaus (AM), na única linha de montagem dedicada de motos da marca fora da Alemanha, a aventureira está pronta para obliterar obstáculos na força bruta mesmo.

A moto é oferecida em 4 versões, acompanhando o visual da atual BMW R 1300 GS. Mas, da moto original, sobrou pouco. A R 1300 GS Adventure 2025 ainda estreia no Brasil o ASA, Automated Shift Assistant, câmbio automatizado que dispensa a alavanca de embreagem e está disponível para as duas versões mais caras. A experiência, nos arredores da capital amazonense, mostrou que se você quer uma moto rápida e confortável na estrada e uma moto capaz na trilha, pode ter apenas uma.

Galeria: BMW R 1300 GS Adventure 2025

A mais completa do mundo?

Acompanhando a nova geração da R 1300 GS, a configuração Adventure também adota o motor de dois cilindros contrapostos (o famoso boxer da marca) com 1.300 cm³, 8 válvulas com comando variável, arrefecimento a líquido e a ar. Segundo a BMW é capaz de entregar 145 cv de potência a 7.750 rpm e 15,2 kgfm de torque a 6.500 rpm.

As quatro versões que a BMW oferece no Brasil contam com câmbio mecânico de seis velocidades embreagem com assistência hidráulica. A transmissão final é feita pelo tradicional eixo cardã. Porém, a principal novidade da linha 2025 é o câmbio ASA. É basicamente um automatizado que dispensa a alavanca de embreagem e mantém a arquitetura de 6 velocidades da unidade mecânica, mas com atuadores para realizar as trocas. Ele pode ser equipado nas duas versões mais caras da R 1300 GS Adventure.

A moto nem tenta parecer pequena. São 2.280 mm de comprimento, exatos 1.000 mm de largura, 1.588 mm de altura contanto o para-brisa e uma distância entre-eixos de 1.510 mm. Mas há uma pegadinha: com as suspensões Paralever (dianteira) e Telelever (traseira) e um engenhoso sistema de rolamento no apoio do garfo dianteiro no chassi, o entre-eixos se encurta e se alonga em acelerações e frenagens fortes, aumentando a estabilidade. Falando na suspensão, são 210 mm de curso na dianteira e 220 mm de curso na traseira. Para a frenagem, são dois discos na frente e um atrás.

Só que é exatamente nas medidas que a Adventure mostra sua brutalidade (ou seria brutalismo?) em relação à GS convencional. A altura do assento varia entre 840 mm e 890 mm, dependendo da posição do banco e da suspensão, ajustável eletronicamente. Ao contrário da Xuxa, não é só para baixinhos. Junte ao assento alto o peso em ordem de marcha de 268 kg e o enorme tanque com capacidade para 30 litros e você se vê numa moto que exige respeito.

Algo que a BMW Motorrad do Brasil reforçou bastante é que o pacote de equipamentos de série da R 1300 GS Adventure no Brasil é superior ao de outros países, incluindo o da própria Alemanha.

Todas as versões saem de fábrica com assistente de partida em rampa, ABS atuante em curva, controle de tração dinâmico, controle de freio motor, controle de cruzeiro dinâmico, faróis auxiliares de LED, farol de LED adaptativo, manetes ajustáveis, manoplas aquecidas, 4 modos de pilotagem, monitoramento da pressão dos pneus, de instrumentos digital, piscas de LED dianteiros integrados aos protetores de mão, chave presencial, e para bagageiros traseiro e laterais, tomada 12V e entrada USB. Daqui para baixo, todos os itens descritos são opcionais em outros países.

BMW R 1300 GS Adventure 2025 -

A versão de entrada, a Adventure Plus, acrescenta alarme, banco conforto para condutor e garupa, cavalete central, preparação para dispositivos de navegação, para-brisa com ajuste elétrico, controle de cruzeiro adaptativo, quickshifter bidirecional (nas motos sem ASA), farol PRO (compensa a inclinação em curvas), modos de pilotagem PRO, suspensão eletrônica com ajuste automático de altura e, nessa versão, rodas raiadas pretas. A configuração vem sempre pintada na cor vermelha sólida.

Uma acima, a Trophy acrescenta engates para bagageiros no tanque, rodas raiadas douradas e vem na cor azul. Depois, a Triple Black, vem na cor preta e cinza e tem rodas raiadas pintadas de preto. Por último, a Option 719 traz diversos detalhes da linha de personalização da BMW, combinando verde metálico com tons dourados na pintura, que a marca chama de Verde Karakorum. As rodas são douradas.

Travessia de rio com a BMW R 1300 GS Adventure 2025 - Primeiras impressões no Brasil

Foto de: Motor1.com

Cruzando a Amazônia a 200 km/h

Há alguns meses, andei na então nova R 1300 GS. Fiquei de cara com a leveza e facilidade de condução da moto que, na época, achei bem grande. A Adventure? Pode esquecer tudo isso, é outro bicho. A começar que a moto sozinha já é mais alta que a minha mãe. O design não tenta esconder o tamanho. Está mais para um Panzerkampfwagen Tiger I de duas rodas, não de duas esteiras. Ao contrário de motos mais recentes, o tanque da Adventure é totalmente metálico e exposto, colocando em destaque a qualidade das soldas.

Mesmo que a BMW tenha retrabalhado o assento do condutor para facilitar esticar as pernas até o chão e que a suspensão eletrônica dê uma força abaixando a moto, tirar a R 1300 GS Adventure do descanso lateral demanda esforço. Parar com ela e meus 1,72 m de altura, também exige planejamento: não conseguia apoiar os dois pés no chão.

Traseira à beira do rio BMW R 1300 GS Adventure 2025 - Primeiras impressões no Brasil

Foto de: Motor1.com

Mas isso sempre aconteceu nas grandes aventureiras da BMW com sobrenome Adventure. para carregar os 30 litros de combustível no tanque, o condutor tem que aceitar alguns sacrifícios. Os mais de 260 kg da moto só ficam menos aparentes andando. E aí ela fica leve, fácil de manobrar até em baixas velocidades.

ei a maior parte do tempo com uma R 1300 GS Adventure Triple Black ASA, com a nova transmissão automatizada da BMW. E esse câmbio merecia até mais tempo para apreciar corretamente. Ao se ligar a moto, ela está em P, de Parking como num carro automático. Para sair, você ainda precisa apertar e segurar a alavanca de câmbio para baixo. Ao estacionar, não é preciso jogar de volta para a posição Neutro, pois a moto volta à posição P automaticamente. Para alternar do modo automático para o manual, onde se faz as trocas na alavanca normalmente sem embreagem, há um botão no punho direito.

Se você tentar usar a moto ASA como uma de transmissão convencional, vai achar que as trocas são lentas e bem marcadas. Você precisa confiar no câmbio e usar o acelerador como uma indicação do que você quer da moto. Aí os computadores fazem centenas de cálculos que incluem até os veículos ao redor antes de fazer a troca. No modo Road, mais convencional, a GS Adventure fica rodando em 2.000 rpm sem nenhum constrangimento, aproveitando o torque. No Dynamic, além de o acelerador ficar mais arisco, o ASA faz trocas mais rápidas e a rotações mais elevadas. Nas frenagens, quanto mais forte você quer parar, mais reduções o câmbio faz.

E todo esse processo de aprendizado aconteceu enquanto tentávamos sair de uma região próxima à fábrica de Manaus em direção à rodovia, no caótico trânsito manauara onde aparentemente os motoristas não conseguem andar em linha reta ou se manter em apenas uma faixa. Agradeci pelo câmbio automatizado: uma coisa a menos pra me preocupar.

Foi o mesmo alívio na terra, alguns quilômetros depois. Sem me preocupar com trocar marchas, aproveitei o tempo para confiar mais da R 1300 GS Adventure fora do asfalto. O tamanho assusta, só que, quanto mais você confia nela, melhor ela vai. Esqueça o peso: a GSA sublima a terra e a lama até uma submissão completa e irrestrita. Não é uma questão de delicadeza ou agilidade, é força bruta mesmo. Aponte a cabeça para onde você quer ir e a BMW faz o resto com os modos Enduro e Enduro Pro.

Lateral dianteira e tanque BMW R 1300 GS Adventure 2025 - Primeiras impressões no Brasil

Foto de: Motor1.com

Até mesmo nos trechos enlameados, a R 1300 GS Adventure tirou de letra, ainda que equipada com pneus mais voltados para o asfalto. Dava para sentir o pneu perdendo aderência, escorregando, amassando a lama e voltando para a direção correta. É uma das vantagens do porte e do peso avantajados. Detalhe: no pior momento de lama, eu estava com uma moto que foi configurada para ter todos os controles eletrônicos e o ajuste automático de altura da suspensão desligados. Enfrentei a situação na base do braço e da capacidade natural da moto.

Mas a magia da GSA apareceu logo depois. Foram algumas horas de trilha até a rodovia grande mais próxima. Paramos no começo do asfalto, apertamos um botão mudando o modo de condução de Enduro para Road. Começamos em um ritmo tranquilo, dentro da legalidade, e a moto virou um transatlântico de conforto. Ótima cobertura aerodinâmica, posição de condução para ar horas a fio sem incômodos e uma agilidade nas curvas não condizentes com o peso.

Depois, foi a vez de a AM-070 virar Autobahn, hipoteticamente. Você poderia ligar o controle de cruzeiro a 180 km/h e tirar as mãos do guidão, de novo: de forma hipotética. Nada no asfalto foi capaz de tirar a R 1300 GSA dos trilhos. Imagino que a moto tenha capacidade até para superar os 223 km/h de máxima.

A moto da BMW rasgou as rodovias da Amazônia, asfaltadas ou não, como uma marreta. Era possível ver os carros ultraados balançando com o deslocamento de ar da moto. Esse é o truque da Adventure: força bruta para resolver qualquer parada. Quer andar rápido no asfalto? Ela vai. Quer ar em trilhas que os carros não entram? Ela vai também. E muda de um modo para o outro ao apertar de um botão.

A R 1300 GS Adventure sempre foi o bastião de tecnologia e capacidade da BMW Motorrad e segue honrando essa tradição com a nova geração. Se faltava apenas ter ASA, agora não falta mais.