De DKW a BYD: a história dos furgões derivados de carros de eio
Modelos bem que tentaram encarar Kombi e Fiorino, mas poucos vingaram no mercado

Na semana ada, a BYD mostrou um Dolphin Mini transformado em um veículo de entregas para ser testado pelos Correios. Uma coisa puxa a outra, e encontramos um gancho para falar de outros furgões derivados de carros de eio que já rodaram pelo Brasil.
Essa história começa bem antes do surgimento da indústria automobilística nacional. Em 1911, a Ford já anunciava por aqui seu Modelo T em versão para transportar pequenas cargas. Já a General Motors inaugurou sua linha de montagem no Brasil, em 1925, com um furgãozinho. Nos anos 30, até carros diminutos, como o Fiat 500 de primeira geração, tinham versão “commercial”.
Galeria: Furgões - História Automotiva
Com o início da fabricação pra valer no país, vieram outros modelos — mas a verdade é que esses automóveis comuns transformados em furgonetas não tiveram muito fôlego em um mercado dominado pela Kombi Furgão e, mais tarde, pelas Fiat Fiorino: veículos que custavam pouco e levavam muito mais carga.
De todos os pequenos carros de entrega nacionais, apenas o Gol Furgão e as furgonetas 147 e Uno obtiveram algum êxito. Ferramentas de trabalho, foram usados e “moídos” até o fim. Alguns acabaram recebendo banco e vidros traseiros, convertendo-se em carros de eio. Por isso, os raros sobreviventes originais em bom estado já conquistaram status de colecionáveis.
Vamos a eles!

DKW-Vemag Furgomag (1961)
Apresentado pela DKW-Vemag no II Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro de 1961, o Furgomag era um furgão feito a partir da perua Vemaguet. Sua inspiração vinha das DKW Stadtlieferwagen (veículo de entregas urbanas) que havia na Alemanha. Das colunas B para trás, o Furgomag não tinha janelas. O acabamento era extremamente simplificado, a ponto de oferecer banco somente para o motorista. No lugar do carona, havia espaço para levar mercadorias ou ferramentas. A porta do compartimento de carga não se abria para cima, mas para o lado (uma solução que seria reaproveitada na despojada DKW Caiçara, em 1962).
A mecânica era a mesma dos outros DKW, com motorzinho dois tempos, de três cilindros. O Furgomag foi exibido no Salão mas jamais entrou em produção seriada. Estima-se que apenas dez exemplares tenham sido produzidos — e todos ficaram em uso como carros de serviço na própria Vemag.

Carrocerias especiais para a Pick-up Willys (1966)
Willys Furgão (1966)
Nos anos 50, a Willys Station Wagon norte-americana tinha uma versão furgão — ou melhor, Delivery — que chegou a ser exportada para nosso mercado. Quando a companhia instalou sua fábrica no Brasil, a Station Wagon foi rebatizada de Rural-Willys, mas só em configuração de ageiros. No Salão de 1960, chegou a versão com caçamba, chamada de Pick-up Jeep.
Em 1966, a Willys ou a oferecer um leque de carrocerias sob encomenda para o chassi da Pick-up Jeep (que tinha entre-eixos 34 cm maior que o da Rural). Havia cabine dupla, carro policial, viatura militar, lança-foguetes, ambulância, o motor home “caramujo” e… furgões. Essas carrocerias especiais eram fornecidas pela Carraço, de São Bernardo do Campo (SP).

Chevrolet Del-Van
Chevrolet Del-Van (1976)
Você já ouviu falar no Chevrolet Del-Van? É um dos furgões mais obscuros da indústria nacional. Sua produção foi pouco documentada — é difícil até mesmo encontrar fotos que comprovem sua existência! O nome Delvan (de “delivery van”), originalmente sem hífen, veio de uma versão de carga da Opel Rekord C Caravan alemã.
Quase todas as citações ao Del-Van brasileiro vêm de uma nota publicada pelo jornalista Fernando Mariano no jornal O Globo, de 8 de abril de 1976. O título diz: “Caravan tem versão fechada”. O texto registra o lançamento do Del-Van, que podia levar 487 quilos. As janelas laterais da Caravan eram substituídas por chapas de aço. Logo atrás de seu único banco (inteiriço), havia uma chapa perfurada que separava cabine e compartimento de cargas.
Outra referência ao furgão foi publicada no jornal O Poti, de Natal (RN), em 18 de abril de 1976. A foto mostra um Chevrolet Del-Van transformado em ambulância e entregue à prefeitura do município potiguar de Ceará-Mirim. Geralmente, as ambulâncias Caravan tinham vidros laterais traseiros jateados — e não as chapas de aço do Del-Van.

Fiat Furgoneta (1979)
Fiat 147 Furgoneta (1978)
Era algo inusitado para a época: um veículo comercial derivado de um subcompacto com 3,62 m de comprimento e 2,22 m de entre-eixos. Lançado em janeiro de 1978, o Fiat 147 Furgoneta aproveitava ao máximo o espaço interno de seu pequeno monobloco: oferecia uma área útil de 1.100 litros, podendo levar 420 quilos. Os vidros laterais traseiros e da tampa da mala eram substituídos por chapas de aço, e uma divisória tubular separava o espaço da carga.
O motorzinho era o Fiasa 1.050, com seus 57 cv SAE. Desprovido de qualquer luxo, o 147 Furgoneta tinha a grande vantagem de pesar pouco (780 quilos) e ser econômico, algo muito valorizado naqueles tempos de crise do petróleo. Era comum ver o modelo sendo usado como carro de serviço das estatais de telefonia. E mais: como tinha poucas concessionárias no Brasil, a Fiat equipou 30 Furgonetas como oficinas móveis, tanto para fazer assistência técnica quanto para dar treinamentos a mecânicos.
O 147 Furgoneta desbravou os caminhos para o lançamento da irmã maior, a Fiorino, apresentada no Brasil em setembro de 1980. Acompanhando a evolução da linha 147, chegou a ganhar a frente “Europa” em 1982. Saiu de linha em 1987, após 12.719 unidades produzidas.

VW Gol furgão
VW Gol Furgão (1981)
De olho no mercado do 147 Furgoneta, a Volks contra-atacou com o Gol Furgão, em maio de 1981. Inicialmente, usava motor 1600 boxer “a ar”, de 66 cv SAE. As laterais eram as do Gol comum, mas não recebiam o corte para os vidros na etapa de estamparia. A área útil era de 1.200 litros e a VW afirmava que o modelo podia levar 420 quilos.
Um mês depois do lançamento do Gol Furgão, a Dacon (lendária revendedora VW e Porsche de São Paulo) lançou uma tampa traseira de fibra de vidro que aumentava a capacidade de carga. Os carros assim equipados eram rebatizados de Gol F.
Com o ar do tempo, o Gol Furgão foi evoluindo junto com o restante da linha, ando a adotar motores refrigerados a água — primeiro o VW AP-600 e, depois, o AE-1600, herdado da Ford nos tempos da Autolatina —, além de receber retoques estéticos e mudanças no . Contudo, na transição para a segunda geração (“Gol Bolinha”), em 1994, o Furgão deixou de ser produzido.

Corcel II Van (externa)
Ford Corcel II Van (1982)
Em abril de 1982, a Ford lançou seu furgão: o Corcel II Van. As laterais utilizavam a mesma estamparia da Belina II, mas não havia o recorte dos vidros na chapa — tampouco existia a vigia traseira. Por dentro, predominava o acabamento espartano, com uma grade separando a área de carga, cujo assoalho recebia ripas de madeira. O modelo podia transportar até 440 kg.
O motor 1.6 era oferecido em versões a álcool (com câmbio de cinco marchas) ou a gasolina (com caixa de quatro velocidades). O Corcel II Van foi produzido até 1984, totalizando apenas 504 unidades. Algumas foram exportadas para o Zaire, atual República Democrática do Congo.

Uno Furgão
Fiat Uno Furgoneta (1988)
Com o fim da família 147, a Fiat precisou fazer mudanças em seus comerciais leves. Assim, em maio de 1988, foi lançada uma nova geração da linha Fiorino, Pick-up e Furgoneta, agora baseada no Uno. Os três modelos estrearam com motores Fiasa 1.300 a álcool e a gasolina. Tinham itens de série como comando interno dos retrovisores e bancos com apoio de cabeça.
Oficialmente, o furgãozinho Uno levava o nome “Fiat Furgoneta”. Em seus parcos 3,64 m de comprimento, o modelo tinha compartimento de carga com volume de 1.300 litros e podia levar 400 quilos. Com o ar dos anos, ganhou o nome oficial “Uno Furgão”. Vieram outros motores: o Fiasa 1.500 (em 1990) e o Fire 1.3 flex (2004).
De todos os furgões derivados de carros de eio no Brasil, o Uno foi, certamente, o de maior êxito. Com a saída de cena do Gol Furgão, em 1994, esse Fiat ficou sem concorrentes diretos justamente na fase de maior expansão das empresas de telefonia no país. Com uma escada no teto, era imbatível! Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), 2.886 exemplares ainda estão em uso.
Em 2011 veio a nova geração do Uno, e logo foi mostrado um protótipo de sua versão furgão. O novo comercial leve, porém, só foi lançado em 2014, com motor Fire 1.0 flex. Ficou em linha por apenas dois anos — a Fiat preferiu se concentrar nas Fiorino e Strada.

Gurgel BR800 para os Correios (1989)
Gurgel BR-800 dos Correios (1989)
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) encomendou à Gurgel Motores dois furgões derivados do então recém-lançado BR-800, o pequeno carro popular 100% nacional. A ideia era testar o modelo no serviço de entregas (como um meio termo entre as motos e as Kombis) e, quem sabe, padronizar a frota dos Correios.
A carroceria do BR-800 comum recebeu um bauzinho em sua parte traseira, adequado para o transporte de cartas, malotes e pequenas encomendas. Com motor de dois cilindros boxer, refrigerado a água, o furgão BR-800 fazia até 23 km/l.
Em maio de 1989, os protótipos foram entregues ao departamento de Engenharia dos Correios, em Brasília, para avaliação. Além disso, a Gurgel tinha a possibilidade de vender o modelo para outras empresas. No entanto, a ECT optou por manter sua frota composta por Kombis, Fiorinos e motos. Com isso, a produção do furgão BR-800 ficou limitada a duas unidades.

Etios Aibo 2022-2023
Toyota Etios Aibo (2022)
O Etios deixou de ser vendido no Brasil em abril de 2021, mas a Toyota continuou a produzi-lo em Sorocaba (SP) para exportação. E mais: em janeiro de 2022, a empresa lançou o Etios Aibo, uma versão furgão desenvolvida para o mercado argentino, em vista da crescente demanda por entregas de compras online. “Aibo” significa “companheiro” em japonês.
A transformação incluía a remoção dos bancos traseiros, criando um vão único entre o porta-malas e a cabine, com piso plano e revestimentos específicos. Eram 1.200 litros de capacidade, para levar até 450 quilos. Além disso, o modelo recebia cintas e uma tela metálica para evitar que a carga se chocasse contra as laterais ou invadisse o espaço do motorista. No entanto, apenas um ano e meio depois — em agosto de 2023 —, a produção do Etios foi definitivamente encerrada no Brasil. O companheiro dos entregadores durou pouco.

Mobi dos Correios (2023)
Fiat Mobi dos Correios (2023)
Em 2022, a Fiat desenvolveu especialmente para os Correios um furgão derivado do subcompacto Mobi. Com capacidade para 400 quilos de carga, esse veículo de entregas custava apenas 63% do valor da Fiorino (que, por sua vez, leva até 600 kg).
O novo modelo começou a ser entregue às agências e centros de distribuição da estatal em janeiro de 2023. Trazia apenas o banco do motorista — no lugar do assento do carona, foi instalada uma caixa para transportar correspondências. Uma divisória plástica isolava a cabine, mas as portas traseiras permaneceram funcionais, facilitando o o aos pacotes.
Seu tamanho compacto facilitava o estacionamento em áreas centrais das cidades e também se mostrava ideal para entregas em locais de difícil o, como vielas e becos. Ao todo, foram produzidas 1.170 unidades, das quais a maioria continua em serviço.
Em breve, o furgãozinho Mobi deverá ressurgir como versão Cargo, produzida em série para atender aos entregadores de encomendas online.

Onix Log - nem adianta procurar no site da GM (1)
Chevrolet Onix Log (2025)
Você sabia que a Chevrolet faz um furgão a partir do Onix? Curiosamente, a marca mantém esse modelo praticamente em segredo. Procure no site da fabricante: não há qualquer menção a essa versão de carga que, sequer, aparece na tabela de preços. Também não houve lançamento oficial ou mesmo um comunicado à imprensa.
Chamado de Onix Log (o "Log" vem de logística), o carro acabou sendo revelado em janeiro, meio que por acaso, no site da Sponchiado, uma concessionária Chevrolet do Rio Grande do Sul. Também apareceu na tabela de 2025 do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV). Só então a Chevrolet confirmou que de fato oferece um furgão Onix, sob encomenda, exclusivamente por meio de vendas diretas para frotistas. O preço varia conforme a negociação, mas, para quem tem CNPJ, pode ficar abaixo dos R$ 90 mil.
O modelo usa motor 1.0 aspirado. Os vidros das portas e da tampa traseira são mantidos. O banco traseiro é retirado, e a cabine recebe uma larga divisória de plástico rígido, com uma pequena janela fixa. O assoalho é revestido com material semelhante ao de protetores de caçamba, e as portas traseiras continuam funcionais.

BYD Mini Dolphin dos Correios (2025)
BYD Dolphin Mini Cargo (2025)
A mais recente novidade vem da China: o Dolphin Mini Cargo, adaptado para entregas urbanas. Desenvolvida pela BYD para o mercado brasileiro, a transformação foi apresentada em abril ado na feira Intermodal (de logística), em São Paulo. O furgãozinho já está à venda e um exemplar vem sendo testado pelos Correios em Guarulhos (SP). Pode ser um novo o dos Correios no processo de eletrificação de sua frota.
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