De Hillman a Jeep: a curiosa história do nome Avenger no mundo automotivo
Sedã britânico e cupê dos EUA já usaram a identidade do futuro SUV nacional

O que o próximo Jeep fabricado no Brasil tem a ver com o Dodginho Polara dos anos 70? Um batismo que tem raízes na antiga Chrysler Corporation… Ao longo das décadas, o nome Avenger atravessou fronteiras, fusões corporativas e transformações de mercado. Já foi ônibus, sedã popular britânico, cupê esportivo americano e, mais recentemente, um SUV compacto elétrico europeu. Essa trajetória começa na década de 1970 com a britânica Hillman e desemboca, mais de 50 anos depois, em um carro da Jeep.
Ainda que o Jeep Avenger atual seja totalmente distinto do Hillman Avenger original, podemos traçar uma linha do tempo para explicar as raízes em comum dos dois modelos.
Primeiro, uma explicação: a palavra "Avenger", em inglês, significa “vingador”. Esteve em alta enquanto durou a série “The Avengers”, produzida pela TV britânica entre 1961 e 1969. Nada tinha a ver com o homônimo grupo de super-heróis da Marvel. A série televisiva tinha como tema a espionagem, com toques de ficção científica em alguns episódios. Exibida em 120 países, fez sucesso na época (no Brasil, foi chamada de “Os Vingadores”).
Enquanto “The Avengers” entrava na casa dos telespectadores, o Grupo Rootes, um dos mais tradicionais fabricantes de automóveis do Reino Unido, projetava um carro pequeno com a ambição de enfrentar os exitosos Ford Escort de primeira geração e o Vauxhall Viva.
Desde 1948, o grupo Rootes já detinha o registro do nome Avenger, utilizado em modelos de ônibus da sua divisão de veículos comerciais, a Commer. Por isso, foi fácil para a Chrysler reaproveitar essa denominação no compacto Hillman Avenger, o primeiro carro dessa história.

Hillman Avenger seda 4 portas 1970–1976
Hillman Avenger (1970–1976)
O Rootes Group era um conglomerado que, ao longo das décadas de 1920 a 1950, consolidou várias marcas britânicas sob um mesmo guarda-chuva, como Hillman, Humber, Singer, Sunbeam, Talbot e Commer (veículos comerciais). Durante os anos 1930 a 1950, o grupo foi um dos pilares da indústria automotiva do Reino Unido, com uma linha diversificada de modelos populares, comerciais e esportivos.
No entanto, entre o final dos anos 1950 e o início dos anos 1960, o grupo Rootes começou a enfrentar dificuldades. Ao mesmo tempo, a norte-americana Chrysler Corporation buscava se expandir para o mercado europeu, onde seus rivais Ford e GM já estavam bem estabelecidos. Em 1967, a Chrysler assumiu o controle da companhia britânica.

Hillman Avenger Estate 1972–1976
Lançado em 1970, o Hillman Avenger foi o modelo que marcou a transição do grupo Rootes para a Chrysler UK. Fabricado entre Ryton-on-Dunsmore, na Inglaterra, e Linwood, na Escócia, era um compacto oferecido em versões de duas e quatro portas, além de station wagon. Trazia um projeto mecânico clássico, com motor longitudinal dianteiro, câmbio de quatro marchas, cardã e tração traseira.
Alcançou sucesso no mercado britânico e ganhou sobrevida internacional, onde a Chrysler via o Avenger como uma forma de entrar na briga dos carros pequenos. Foi vendido por diversas marcas da Chrysler Corporation, sob diversos nomes: Plymouth Cricket (EUA e Canadá), Dodge Avenger (África do Sul), Sunbeam (Dinamarca, Holanda, Itália e Espanha) e Chrysler Avenger (entre 1976 e 1979, após o fim da marca Hillman). No Irã, o modelo foi fabricado pela Khodro. No Uruguai, virou veículo de trabalho: a picape Dodge 1500.

Dodge 1800 - o Hillman Avenger brasileiro
Já a versão brasileira do Hillman Avenger foi apresentada no Salão de São Paulo de 1972, com o nome de Dodge 1800, sendo oferecida unicamente com carroceria de duas portas. O automóvel apresentou tantos problemas de qualidade e projeto que a Chrysler teve de oferecer um programa de “garantia total”. Depois de muitas modificações e de consertar o que estava ruim, o modelo teve uma espécie de relançamento para a linha 1976 — e virou Dodge Polara. Este sim era confiável e agradável de guiar (o repórter que vos escreve teve um e adorava o carro). Em 1980, contudo, a Volkswagen comprou a Chrysler do Brasil e, no ano seguinte, tirou o Polara de linha, após um total de 92 mil unidades produzidas em nove anos.

Dodge 1500 - o Hillman Avenger argentino
Na Argentina, a história foi bem diferente. Lançado em 1971 com o nome Dodge 1500 e carroceria sedã de quatro portas, ao longo do tempo ganhou versões esportivas (GT90 e GT100) e uma station wagon, a Dodge 1500 Rural. A exemplo do que aconteceu no Brasil, a VW também comprou as operações da Chrysler na Argentina. Mas não tirou o modelo de linha… Em vez disso, o carro foi rebatizado de Volkswagen 1500 e continuou em produção até 1990. Ao longo de 19 anos, foram vendidas mais de 260 mil unidades — um sucesso para os padrões locais.

Dodge Polara, o último descendente brasileiro do Avenger
E, assim, o velho Hillman Avenger, um escocês financiado por norte-americanos, viveu seus últimos dias na Argentina.

Talbot Avenger - a Peugeot assumiu a produção entre 1979 e 1981
Talbot Avenger (1979–1981)
A aventura europeia da Chrysler não deu certo e a companhia norte-americana logo precisou voltar seus esforços para os EUA, onde estava à beira da falência. Diante da oportunidade, a PSA Peugeot Citroën adquiriu — por apenas US$ 1 — o que sobrou da Chrysler Europe. Era agosto de 1978.
No balaio, a PSA levou o Hillman Avenger, que foi rebatizado de Talbot Avenger e continuou em produção até 1981, quando sua fábrica em Linwood, na Escócia, foi fechada. Em tempos de compactos com motor transversal, o Avenger já estava defasado e não fazia parte da estratégia de renovação da nova controladora sa.
A Chrysler Corporation, contudo, manteve o registro do nome Avenger, o que possibilitou escrever novos capítulos nessa história.

Dodge Avenger Coupe (FJ) 1994–2000
Dodge Avenger cupê (1994–2000)
O nome Avenger ressurgiu nos Estados Unidos em 1994, agora como um cupê esportivo de duas portas da Dodge. Foi desenvolvido nos tempos da Diamond Star Motors (DSM), uma parceria da Chrysler Corporation com a Mitsubishi Motors.
A plataforma de motor transversal e tração dianteira do Dodge Avenger cupê tinha origem nos Mitsubishi Galant e Eclipse, sendo usada também no Chrysler Sebring. Havia versões com motor Chrysler de quatro cilindros e 2 litros (142 cv) e câmbio manual, e outras com o Mitsubishi Cyclone V6 de 2,5 litros (163 cv), com caixa automática.
Fabricado em Illinois, o Avenger cupê nunca foi um grande êxito de vendas. Saiu de linha em 2000, dando lugar ao Dodge Stratus cupê de segunda geração.

Dodge Avenger RT sedan (JS) 2007–10
Dodge Avenger sedã (2007–2014)
Nos estertores do casamento com a Daimler-Benz (a fase DaimlerChrysler, que durou de 1998 a 2007), o nome Avenger foi trazido de volta em um substituto para o Dodge Stratus de quatro portas.
Lançado em fevereiro de 2007, o novo Dodge Avenger sedã trazia a plataforma Mitsubishi GS, também usada nos Outlander e Lancer da época. A mesma base também viria a dar origem aos Dodge Journey e Fiat Freemont, em 2009.
Esse Dodge Avenger era um sedã médio para os padrões dos EUA (4,85 m de comprimento). Trazia versões com motor quatro cilindros de 2,0 ou 2,4 litros, além de um leque de opções V6, que incluiu o moderno Pentastar 3.6 a partir de 2011. Tinha motor transversal e tração dianteira, mas uma de suas configurações, a R/T, chegou a oferecer tração integral entre 2007 e 2009.

Dodge Avenger RT Sedan (JS) 2011–14
O design musculoso e a frente robusta dividiram opiniões, e o acabamento interior foi alvo de críticas — pontos que a Dodge tentou corrigir no facelift de 2011. Em seus sete anos em produção, teve um desempenho mediano no mercado: vendeu cerca de 543 mil unidades nos EUA, um bom número para um sedã médio em tempos de crise econômica. Mas, ao contrário de rivais como Ford Fusion e Honda Accord, nunca se destacou. Foi tirado de linha em 2014, sem sucessor — sinal de que a Dodge não via futuro no modelo. Cumpriu sua função, mas sem deixar saudades.
Em alguns mercados fora dos Estados Unidos, tanto o Dodge Avenger cupê quanto o sedã receberam o nome Chrysler Avenger, numa tentativa de unificar a identidade da companhia no mercado global.

Jeep Avenger e-Hybrid 2023
Jeep Avenger (2023–presente)
No Salão de Paris de 2022, o velho nome voltou novamente — agora no Jeep Avenger. É o primeiro modelo da Jeep desenvolvido especificamente para o mercado europeu, focando em uso urbano, emissões rigorosas e gostos locais. Estreou como um SUV compacto 100% elétrico e, mais tarde, ganhou versões a 100% a gasolina ou híbridas leves.
Baseado na plataforma CMP/eCMP da Stellantis, compartilhada com Peugeot 2008 e Fiat 600e, o Avenger atual tem tração dianteira e motor de 156 cv na versão totalmente elétrica. Para alguns mercados, sai com motor 1.2 turbo a gasolina e como híbrido leve.
Sua mais recente configuração é o Avenger 4xe, com tração nas quatro rodas e motorização híbrida. O conjunto combina o motor 1.2 turbo a gasolina com dois motores elétricos de 21 kW (cerca de 28 cv) cada — um em cada eixo — com potência combinada de até 145 cv.
Produzido na Polônia, o modelo é vendido na Europa, Japão, Coreia do Sul e alguns países da América do Sul, mas não nos EUA. A partir do ano que vem, será fabricado no Brasil.
Será que desta vez o Avenger vai vingar?
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