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Fiat Prêmio: os 40 anos de um sedã brasileiro que ganhou a Europa

Modelo estreou em 1985, com motor 1.5, para ser mais que um Uno três volumes

Fiat Prêmio CSL 1990–91
Foto de: Motor1.com

A data da revelação está no cantinho da foto: “FEV/85”. A imagem mostra Geraldo Magela, Paulo César e Robson Cotta, da equipe de testes da Fiat, posando ao lado de um VW Voyage. Na frente, há um Ford Escort. E, lá no fundo (com camuflagem na parte traseira), um carro que ainda não havia chegado às lojas: o Fiat Prêmio.

"Estávamos na BR-101, ao nível do mar, entre Paraty e Angra, comparando consumo de combustível e performance em geral do Prêmio com seus principais concorrentes", recorda-se o engenheiro Robson, que dedicou toda a sua vida profissional à fábrica de Betim.

A equipe da Fiat em um teste comparativo na Rio-Santos (fev 1985) - Robson é o de camisa branca

A equipe da Fiat em um teste comparativo na Rio-Santos (fev 1985) - Robson é o de camisa branca

Foto de: Motor1.com

O lançamento do Prêmio - primeiro modelo derivado do Uno - está completando 40 anos. É uma boa ocasião para relembrar que o sedã, vendido no Brasil de 1985 a 1995, não foi apenas um “Uno com porta-malas saliente”. Até então, o sedã brasileiro da Fiat era o Oggi, que nunca alcançou grande sucesso. Produzido entre 1983 e 1985, o três volumes derivado do Fiat 147 Spazio teve somente 20 mil exemplares vendidos.

Táxi, não!

Com o Prêmio, a Fiat brasileira subiu de categoria: ou a fazer um carro com pouco mais de 4 metros de comprimento (4,03 m, para ser exato) e de condução suave. Como no Uno, as linhas da carroceria três volumes ficaram a cargo do renomado Giorgetto Giugiaro, fundador do estúdio Italdesign.

Fiat Prêmio CS 1985–86 (1)

Fiat Prêmio CS 1985–86

Foto de: Motor1.com

"O carro foi desenvolvido a partir do Uno, e foi o próprio Giugiaro quem desenhou a carroceria sedã. Ele conseguiu incorporar todas as boas qualidades do Uno e ainda fazer o maior porta-malas do segmento",  diz Robson.

Inicialmente, o Prêmio era fabricado apenas com carroceria de duas portas, atendendo ao gosto do nosso mercado - o brasileiro dos anos 80 tinha muito preconceito contra os quatro portas, vistos como “um perigo para quem tinha filhos pequenos”. Além disso, Roberto Luiz Bogus, então diretor comercial da Fiat, temia que um Prêmio de quatro portas fosse vendido como táxi, fazendo com que o modelo “perdesse sua imagem”.

Fiat Prêmio CS 1985–86 (o primeiro )

Fiat Prêmio CS 1985–86 (o primeiro )

Foto de: Motor1.com

Era um sedã de desenho moderno, equilibrado e limpo, com enorme área envidraçada. Na traseira empinada, com um quê da Alfa Romeo Giulietta da época, as grandes lanternas verticais eram o destaque. A ampla tampa do porta-malas permitia um o raramente visto no Brasil até então. Sobrava espaço: eram 530 litros (bem verdade que pelo padrão de medição da própria Fiat). 

O banco traseiro era 8 cm mais largo que os do Uno. Havia conforto para quatro pessoas - ou dois adultos, três crianças e dois cachorros, como mostrava uma propaganda. Das colunas B para a frente, o novo sedã era praticamente igual ao Uno. Só que Uno herdara motores (1.050 e 1.300) e câmbio do 147, enquanto o Prêmio trazia mecânica realmente nova. 

O banco traseiro era mais largo que o do Uno

O banco traseiro era mais largo que o do Uno

Foto de: Motor1.com

"O Prêmio recebeu, de cara, o motor 1.500 importado da Sevel Argentina. Isso mudou a tônica dos Fiat brasileiros e, depois, Uno e Elba também receberam essa mecânica. Por causa do motor maior, a suspensão foi refeita e o carro ganhou pneus mais largos", explica Robson.

Sevel, vale dizer, era uma t venture firmada na Europa entre a Fiat e a PSA. O nome originalmente vinha de "Société Européenne de Véhicules Légers" ou "Società Europea Veicoli Leggeri" mas, na Argentina, virou "Sociedad Europea de Vehículos para Latinoamérica".

Fiat Prêmio S 1985–86 (lateral)

Fiat Prêmio S 1985–86 (lateral)

Foto de: Motor1.com

Até então, os clientes da Fiat no Brasil estavam acostumados a carros com motores ruidosos, de pouquíssimo torque abaixo de 2.000 rpm, com câmbio de engates difíceis, suspensão dura e volante quase na horizontal. 

A nova mecânica e o acerto de chão davam ao Prêmio um comportamento “tão macio, redondo e silencioso” quanto os dos concorrentes, segundo descreveu o jornalista José Luiz Vieira na saudosa revista “Motor 3”, edição de abril de 1985.

O Fiat Prêmio de quatro portas foi lançado em 1987

O Fiat Prêmio de quatro portas foi lançado em 1987

Foto de: Motor1.com

Um novo tempo, um novo carro

Com peças do moderno Fiat Ritmo italiano (1978-1988), o motor 1.500 Sevel era do tipo “superquadrado”, ou seja: o diâmetro dos cilindros (86,4 mm) era bem maior que o curso dos pistões (63,9 mm). Além disso, tinha mais taxa de compressão e carburador de corpo duplo. Movido a álcool, rendia 71,4 cv e 12,3 kgfm. São números irrisórios aos olhos de hoje, mas representavam ganhos de 20% na potência e 23% no torque, em relação aos Uno 1.300. 

A aceleração de 0 a 100 km/h era feita na casa dos 16 s, enquanto a máxima girava em torno dos 160 km/h. Em termos de desempenho puro e simples, o Uno ainda era superior, mesmo com os motores menores - afinal, o Prêmio era 40 cm mais longo e 80 quilos mais pesado. 

Fiat Oggi

Fiat Oggi

Foto de: Motor1.com

Mas fato é que o sedã tinha um funcionamento bem mais civilizado, sem vibrar ou “se esgoelar” o tempo todo. Contribuía para isso o câmbio com quarta e quinta marchas mais longas que as do Uno 1.300. Havia ainda um sistema inédito de borboleta na descarga (corpo farfallato) que usava os gases do escape para aquecer o motor 1.500 a álcool mais rapidamente nos dias frios. Era o fim do sofrimento no inverno. A suspensão mais macia, pelo maior peso na traseira, proporcionava mais conforto de rodagem que no Uno.

Na época do lançamento, o Prêmio era considerado um “médio pequeno de luxo”, o carro mais sofisticado já produzido pela Fiat no Brasil. Isso podia ser percebido no excesso de filetes cromados e no capricho do acabamento da versão CS (Comfort Super, a primeira a estrear). Mas lembre-se que estávamos nos anos 80 e o sedã não trazia ar-condicionado sequer como opcional. 

Fiat Prêmio CS 1985–86 (traseira)

Fiat Prêmio CS 1985–86 (traseira)

Foto de: Motor1.com

O lançamento aconteceu na virada de março para abril de 1985 - nos estertores de 21 anos de governo militar. Figueiredo, o último general-presidente, se despedia do cargo ("Peço ao povo que me esqueça!") e pensávamos que seu lugar logo seria ocupado por Tancredo Neves. A propaganda do Prêmio refletia esse clima: “Um novo tempo, um novo carro”, “A liberdade de ir e vir nunca foi tão bonita”, “O país ganhou uma nova dimensão”, “Aqui todos os movimentos serão respeitados”. 

Depois do Prêmio CS, estreou o básico S, com motor 1.300 e câmbio de quatro marchas (o de cinco velocidades era opcional).

Fiat Duna brasileiro vendido na Europa (1987–89)

Fiat Duna brasileiro vendido na Europa (1987–89)

Foto de: Motor1.com

De Prêmio a Duna

A família continuou a crescer com a station wagon Elba, em 1986. No ano seguinte, o Prêmio finalmente ganhou uma carroceria de quatro portas, que usava partes do Uno italiano. Isso abriu novos horizontes para o modelo “made in Betim”. Rebatizado de Duna, o sedã ou a ser comercializado na Europa e na Argentina. Em outros países, como Colômbia e Equador, ainda mantinha seu nome original.

"O Prêmio foi um ótimo carro para a Fiat do Brasil. Fez sucesso no mercado interno e foi exportado em enormes quantidades. Até hoje, o Clube do Duna é fortíssimo na Itália. Na Argentina, onde os sedãs sempre venderam mais que os hatches, o modelo também foi um sucesso", afirma Robson.

Fiat Duna Weekend - a Elba brasileira vendida na Europa

Fiat Duna Weekend - a Elba brasileira vendida na Europa

Foto de: Motor1.com

Ainda em 1987, o carro ganhou uma nova versão topo de linha, a CSL (Comfort Super Lusso), com ar-condicionado e até computador de bordo como opcionais, além de trava central elétrica. Em 1989 chegou um mais baixinho e, no ano seguinte, a cilindrada do motor Sevel ou a ser de 1,6 litro (84 cv). 

Na Europa, havia outras opções de mecânica. Tanto o Prêmio (Duna) quanto a Elba (Duna Weekend) eram oferecidos com motor 1.100, derivado daquele 1.050 do Fiat 147. Havia também o 1.300 a gasolina e o 1.700 a diesel. As Elba chegaram a ser comercializadas com a marca Innocenti, uma divisão do grupo Fiat.

Fiat Duna 1989–91

Fiat Duna 1989–91

Foto de: Motor1.com

No primeiro ano de exportações (1987), foram vendidas 52.624 unidades dos dois modelos Duna na Itália. Estes Fiat brasileiros permaneceram no catálogo europeu até 1991, 

Na Argentina, o sedã fabricado em Betim ganhou respeito ao estabelecer um recorde sul-americano de Regularidade, reconhecido pela Fédération Internationale du Sport Automobile (Fisa): ao longo de sete dias, com paradas apenas para reabastecimento, troca de óleo e a manutenção indispensável, o Fiat percorreu 25 mil quilômetros à velocidade média de 146 km/h. A prova foi promovida pela revista Parabrisas, no autódromo de Rafaela.

Fiat Prêmio SL 1991–92

Fiat Prêmio SL 1991–92

Foto de: Motor1.com

Em 1991, veio um retoque na dianteira, com faróis mais baixos. Um ano mais tarde, foi a vez da injeção eletrônica monoponto ser incorporada ao modelo. Daí em diante, o Prêmio não mudou muito. 

No fim, a produção foi transferida para a Argentina — e foi de lá que chegaram os últimos lotes vendidos aqui, em 1995, com o nome Duna e somente com o motor Sevel 1.6. Em dez anos de Brasil, foram fabricados cerca de 180 mil exemplares do Prêmio.

A esta altura, a Fiat já estava concentrada no projeto 178, que daria origem ao Palio. Em pouco tempo, o hatch ganhou um irmão sedã, o Siena, em agosto de 1997. Em 2013, o brasileiro Duna, em todas as suas versões, foi incluído na lista de Carros de Interesse Histórico do Automóvel Clube da Itália.

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